27.4.11




Cerimónias cor-de-rosa

A pretexto das cerimónias do 25 de Abril, em Belém, presidente e ex-presidentes vieram apelar à unidade. Pedem agora ao povo que ajude a resolver os problemas criados por uma classe dirigente cujos principais símbolos são justamente Eanes, Soares, Sampaio e Cavaco. Pungente!

Estes apelos a uma unidade artificial são afinal o sintoma da luta desesperada pela sobrevivência deste regime moribundo. Fazem lembrar o pedido de união que Salazar dirigia aos portugueses aquando do início da guerra colonial ou as "conversas em família" de Marcelo Caetano. Reproduzem até a invocação da unicidade por parte da Intersindical, que apenas visava, em 1978, evitar o pluralismo na representação dos trabalhadores.
Os senadores de serviço tiveram até o descaramento de pedir aos partidos que se entendessem (antes e depois das eleições!), tentando assim coagir o saudável jogo democrático, mitigando o confronto de ideias que conduzem à apresentação de projectos alternativos. No seu íntimo, a unidade que preconizam não é a dos portugueses, mas a duma classe política entrincheirada, que já tem de se resguardar da indignação popular.
A aplaudir, ufana, toda a corte. Bem enfarpelada e cheirosa, revia-se nos discursos que na prática salvaguardam a manutenção dos seus privilégios. Seguiu-se a "valsinha das medalhas", com que se agraciaram uns quantos "tios" e "tias" da linha de Cascais com condecorações e prebendas. São assim premiados pela sua capacidade de ajudar a enganar o povo.
No fim da festa, não poderia faltar um "cocktail", em que a brigada de reumático de serviço se metamorfoseou em brigada da mão fria, copo gelado na mão e ar sisudo. Não estava lá ninguém para lembrar que não basta ser sisudo para ser sério, que é preciso é ser honesto. Ninguém recordou também que foi para acabar com este tipo de oligarquia que privilegia os favores e negócios de corte - e desvaloriza as eleições e a democracia - que se tinha feito a revolução de Abril.
Em suma, o Palácio de Belém não esteve à altura do 25 de Abril. Esteve mais à medida da sua cor e das revistas cor-de-rosa.

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