Matosinhos quer comprar estádios por sete milhões
por SÉRGIO PIRES
O tempo é de crise, porém, a Câmara Municipal de Matosinhos encontrou nas últimas semanas de 2010 uma solução para tentar resolver as dificuldades financeiras do Leixões e do Leça: o acor-do entre o executivo PS, liderado por Guilherme Pinto, e os dois vereadores eleitos pela coligação PSD/CDS-PP permite avançar para a compra dos estádios dos dois mais representativos clubes do concelho por uma verba que poderá rondar os sete milhões de euros (embora ainda falte a avaliação às infra-estruturas) como forma de impedir que o património desportivo caia nas mãos de privados.
A decisão autárquica, que não encontra paralelo desde o Euro 2004, merece o apoio por parte da direcção de ambos os clubes (apesar de o Leixões não querer tomar posição pública sobre a matéria).
O presidente do Leça, António Pinho, sublinha ao DN que esta será "a única hipótese para resolver a situação financeira" periclitante, já que o emblema leceiro, que actualmente milita na III Divisão, está em risco de extinção, por dívidas a rondarem os cinco milhões de euros, sendo que a municipalização do estádio deverá garantir um encaixe ligeiramente superior a um milhão de euros: "Essa verba ajudará a reequilibrar as contas. Temos todas as receitas penhoradas por dívidas ao fisco, à Segurança Social e ao BPN, que também penhorou o estádio. Estamos com 'a criança nos braços'..."
A situação financeira do Leixões é mais desafogada, mas tal não impediu que em Novembro o Estádio do Mar, penhorado pelo fisco, fosse leiloado em hasta pública por uma dívida de 209 mil euros de IRC. Apesar de não terem aparecido compradores, dada a base de licitação rondar os três milhões de euros, a autarquia teme perder o terreno para privados numa futura hasta pública.
Como tal, José Guilherme Aguiar, vereador do Desporto da Câmara de Matosinhos e presidente da empresa Municipal Matosinhos Sport, defende a posição de municipalizar os estádios. "Estamos a falar de equipamentos desportivos com história e função futura, que vão servir a comunidade e serão alvo de uma profunda intervenção urbana...", sublinha o vereador eleito pelo PSD, em total sintonia com o executivo PS, que como contrapartida para a aquisição do recinto leixonense quer abdicar da sua quota de 20 por cento na SAD, que entre 2002 e 2005 o levou a gastar mais de 800 mil euros para suprir dificuldades financeiras.
A posição do executivo está, no entanto, longe de ser pacífica, e tem merecido largas críticas - e até a proposta de um referendo local (ver destaque). Um dos mais ferozes opositores desta decisão é Narciso Miranda, actual vereador sem pasta (cujo movimento representa um terço dos eleitores de Matosinhos), que classifica como "escândalo" a posição da autarquia. "É uma ofensa para os milhares de pobres do concelho que a câmara diga 'a nossa prioridade agora é comprar estádios', numa decisão que beneficia a gestão duvidosa, para não dizer danosa, dos dois clubes", sublinha o ex-presidente da câmara, classificando esta decisão como um acto de "despesismo irresponsável".
Referendo causa divergências
Ao lançar a proposta de municipalização dos estádios, no início do passado mês de Novembro, o presidente da autarquia, Guilherme Pinto, lançou também a discussão em Matosinhos. A tal ponto que na última semana, a Comissão Política da Concelhia do PSD, em dissensão com a posição dos dois vereadores eleitos pelo partido, decidiu lançar a proposta de um referendo local sobre esta matéria aos 145 mil eleitores de Matosinhos. Guilherme Aguiar discorda completamente da posição dos seus correligionários. "É uma proposta idiota da Comissão Política do PSD de Matosinhos. É uma fuga cobarde de quem não sabe o que fazer. Deveria fazer-se um referendo se a compra dos estádios fosse uma situação anormal de gestão", sublinha o responsável com o pelouro do Desporto.
Pelo contrário, Narciso Miranda louva a intenção e oferece-se para recolher as cinco mil assinaturas requeridas para uma iniciativa popular: "Consulte-se a população, até porque o dinheiro é do povo..."
Facto é que mesmo que não haja referendo, a compra dos estádios ainda terá de passar pela aprovação da Assembleia Municipal, bem como das Assembleias Gerais dos dois clubes. Pelo que, depois da avaliação dos terrenos e infra- -estruturas, o processo, no cenário menos moroso, poderá estar concluído no primeiro trimestre deste ano de 2011.
3 PERGUNTAS A...
"É o mesmo que comprar um teatro"
por JOSÉ G. AGUIAR,
Porquê esta decisão de comprar os estádios neste momento de crise?
Ao longo dos anos o município de Matosinhos, certamente, já gastou mais nos estádios do que a verba que eles vão custar agora. Comprar estádios é o mesmo que comprar um teatro. Aliás, a Câmara de Matosinhos adquiriu recentemente a casa onde nasceu Álvaro Siza Vieira ou o edifício da Real Vinícola, onde investiu cinco milhões de euros, e ninguém se opôs... Estamos a falar de equipamentos desportivos com história e função futura.
Como reage às críticas de que esta decisão é um acto de despesismo?
Trata-se de uma acusação gratuita. Despesismo é gastar mal o dinheiro. Estes equipamentos são úteis para a comunidade e aquilo que vamos investir - cerca de sete milhões de euros - não é uma verba proibitiva para os cofres da autarquia.
Existe algum projecto associado a esta aquisição de terrenos?
A aquisição do Estádio do Leça permitirá a reabilitação do clube. Já o Estádio do Mar será transformado na grande sala de espectáculos futebolísticos de Matosinhos. No complexo haverá zonas de serviços e uma remodelação do espaço desportivo. Esta aquisição do Estádio do Mar permitirá uma profunda intervenção urbana da zona envolvente - ao lado vão nascer hotéis, vai dar-se o alargamento da A28, entre outras obras... Será algo de comparável com o que aconteceu com o Está- dio do Dragão a propósito do Euro 2004.
3 comentários:
Será que não existe nenhum organismo para ver estas situações, ou mesmo que haja, os amigos resolvem sempre a favor dos mesmos (boys). Pelo andar da carruagem aqui no Norte senão fôr no paìs parece-me que a Câmara de Gaia vai sair do top das mais endividadas, para dar lugar à de Matosinhos, e isto por questões de muito pouca importância a Câmara já tem tantos estádios e ainda vai ficar com mais 2 deixen-se disso senhores membros da câmara.
Um Matosinhense atento
Estes autarcas estão mesmo a precisar de tratamento psiquiátrico.
Este Guilherme Aguiar é mau demais!!!
vereador assim nem dado!!!
vergonha!
Enviar um comentário