Pedro Santos Guerreiro
Um dos mistérios da comunicação política é que não tem de ser factual para se tornar real.
A grande invenção está na frase "o que parece é", que faz crível o que nem é credível: a mentira e a ficção são toleradas como o sal e a pimenta na comida. "É a política, estúpido!" E o estúpido, tributado e eleitor, pergunta: e o BPN?
Nem Estado Social, nem crise de soberania, nem funções do Presidente: as eleições são marcadas pelo BPN. Porque é um ponto fraco de Cavaco e um ponto morto do Governo. Para os contribuintes, o BPN é uma bomba-relógio; para os políticos, é um relógio-bomba. Os partidos são assim: agendam escândalos para as eleições.
Cavaco não está a ser justo com a administração do BPN. Nem quer: está a defender-se, supondo que em legítima defesa, do ataque sobre o seu envolvimento naquela fraude. Está a fazer política. Porque Cavaco Presidente nunca perguntou à Caixa o que Cavaco candidato quer saber. E porque a comparação com os bancos ingleses é abusiva, por várias razões. Incluindo esta: o Estado inglês injectou milhões, o português ainda não.
Esse é o problema do Governo. Nunca disse aos portugueses, mais de dois anos depois da nacionalização, quanto lhes vai custar o banco. Nem deu uma justificação para o fracasso da privatização. O banco está em situação ilegal, precisa de aumentar o capital em 500 milhões só para ter as portas abertas. Nas suas contas há um buraco supõe-se que superior a dois mil milhões de euros de imparidades, que está a ser desmamado para sociedades-veículo, onde ficarão a ruminar durante anos para uma venda controlada de activos, como se faz com uma massa falida.
A antiga administração era da gesta PSD, a actual é da gesta PS. É isso que está em causa. Tanto que o ataque de Cavaco é feito contra o presidente do BPN, Francisco Bandeira, que tem linha socialista directa para Sócrates como tinha com Vara; e preserva o presidente da Caixa, Faria de Oliveira, social-democrata e membro da Comissão de Honra de Cavaco. Até porque há outro presidente que é recandidato: o da Caixa...
Está demonstrado que Cavaco foi usado no BPN. O seu nome foi caução moral para uma actuação de facínoras, não se percebendo por que tardou em desvincular-se. A questão que Cavaco não esclareceu quando devia foi a mais-valia das acções na SLN. Há razões para as perguntas: não eram acções cotadas em bolsa, tinham assinatura e não tinham liquidez. Como se valorizaram tanto e tão depressa? Era fácil explicar. Cavaco não quis porque, diz, é um homem sério. Claro que é. E nós, não somos?
Há ano e meio, Oliveira e Costa disse, compungido: "Ter pegado no BPN foi uma tragédia". Nessas audiências no Parlamento fomos diariamente insultados por ex-administradores e accionistas do banco: de nada sabiam, confundiram responsabilidades, citaram nomes - Joaquim Nunes, Almiro Silva, Fernando Fantasia, António Franco, Emanuel Peixoto, Ricardo Pinheiro, António José Duarte... Dias Loureiro foi uma vítima no resguardo no Conselho de Estado, Oliveira Costa nem "password" do banco tinha, Joaquim Coimbra pensava que BI (Banco Insular) era Bilhete de Identidade, Daniel Sanches, "coitado", assinou o contrato do Siresp quase sem saber; havia acções vendidas com contratos de recompra através de "offshores", manipulando a acção e os investidores, muitos dos quais, como Rui Nabeiro, foram enganados. Só Miguel Cadilhe interrompeu essa falsidade, quando recusou cumprir essas cláusulas "indemnizatórias".
O debate eleitoral é uma arena onde os políticos lutam contra as suas próprias menoridades. Mas as "tretas", como lhes chamou Cavaco, não podem fazer Portugal esquecer jamais o escândalo do BPN, a corrupção ao mais alto nível, as avenças a políticos, as comissões, assinaturas falsas, bancos inexistentes, negócios de um euro que custaram 35 milhões.
O BPN não está ser gerido, está a ser digerido. Há-de custar-nos centenas de milhões. Mas não é um caso de política, é um caso de polícia. Alguém tem de pagar. E não podem ser só os contribuintes.
Nem Estado Social, nem crise de soberania, nem funções do Presidente: as eleições são marcadas pelo BPN. Porque é um ponto fraco de Cavaco e um ponto morto do Governo. Para os contribuintes, o BPN é uma bomba-relógio; para os políticos, é um relógio-bomba. Os partidos são assim: agendam escândalos para as eleições.
Cavaco não está a ser justo com a administração do BPN. Nem quer: está a defender-se, supondo que em legítima defesa, do ataque sobre o seu envolvimento naquela fraude. Está a fazer política. Porque Cavaco Presidente nunca perguntou à Caixa o que Cavaco candidato quer saber. E porque a comparação com os bancos ingleses é abusiva, por várias razões. Incluindo esta: o Estado inglês injectou milhões, o português ainda não.
Esse é o problema do Governo. Nunca disse aos portugueses, mais de dois anos depois da nacionalização, quanto lhes vai custar o banco. Nem deu uma justificação para o fracasso da privatização. O banco está em situação ilegal, precisa de aumentar o capital em 500 milhões só para ter as portas abertas. Nas suas contas há um buraco supõe-se que superior a dois mil milhões de euros de imparidades, que está a ser desmamado para sociedades-veículo, onde ficarão a ruminar durante anos para uma venda controlada de activos, como se faz com uma massa falida.
A antiga administração era da gesta PSD, a actual é da gesta PS. É isso que está em causa. Tanto que o ataque de Cavaco é feito contra o presidente do BPN, Francisco Bandeira, que tem linha socialista directa para Sócrates como tinha com Vara; e preserva o presidente da Caixa, Faria de Oliveira, social-democrata e membro da Comissão de Honra de Cavaco. Até porque há outro presidente que é recandidato: o da Caixa...
Está demonstrado que Cavaco foi usado no BPN. O seu nome foi caução moral para uma actuação de facínoras, não se percebendo por que tardou em desvincular-se. A questão que Cavaco não esclareceu quando devia foi a mais-valia das acções na SLN. Há razões para as perguntas: não eram acções cotadas em bolsa, tinham assinatura e não tinham liquidez. Como se valorizaram tanto e tão depressa? Era fácil explicar. Cavaco não quis porque, diz, é um homem sério. Claro que é. E nós, não somos?
Há ano e meio, Oliveira e Costa disse, compungido: "Ter pegado no BPN foi uma tragédia". Nessas audiências no Parlamento fomos diariamente insultados por ex-administradores e accionistas do banco: de nada sabiam, confundiram responsabilidades, citaram nomes - Joaquim Nunes, Almiro Silva, Fernando Fantasia, António Franco, Emanuel Peixoto, Ricardo Pinheiro, António José Duarte... Dias Loureiro foi uma vítima no resguardo no Conselho de Estado, Oliveira Costa nem "password" do banco tinha, Joaquim Coimbra pensava que BI (Banco Insular) era Bilhete de Identidade, Daniel Sanches, "coitado", assinou o contrato do Siresp quase sem saber; havia acções vendidas com contratos de recompra através de "offshores", manipulando a acção e os investidores, muitos dos quais, como Rui Nabeiro, foram enganados. Só Miguel Cadilhe interrompeu essa falsidade, quando recusou cumprir essas cláusulas "indemnizatórias".
O debate eleitoral é uma arena onde os políticos lutam contra as suas próprias menoridades. Mas as "tretas", como lhes chamou Cavaco, não podem fazer Portugal esquecer jamais o escândalo do BPN, a corrupção ao mais alto nível, as avenças a políticos, as comissões, assinaturas falsas, bancos inexistentes, negócios de um euro que custaram 35 milhões.
O BPN não está ser gerido, está a ser digerido. Há-de custar-nos centenas de milhões. Mas não é um caso de política, é um caso de polícia. Alguém tem de pagar. E não podem ser só os contribuintes.
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