21.10.10

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11, o ano da Besta

Portugal está a render-se. A entregar-se às mãos de quem nos vai acudir.

Só isso justifica a crise política que está a formar: nem Sócrates nem Passos Coelho (nem Cavaco?) querem que seja seu o dedo que vai carregar no botão SOS. Portugal vai ser o BPN da Europa.

Estamos à beira de uma crise política grave. Governo e PSD não estão a negociar porque não querem. A estreiteza que os separa é um rio que dá para atravessar a nado, mas nenhum quer nadar. Ontem, nem Passos Coelho nem Silva Pereira (que falou como voz do ventríloquo José Sócrates) usaram termos de quem procura a paz, mas a hostilidade de quem está preparado para a guerra. 

As hipóteses de viabilização do Orçamento são neste momento quase nulas. Hipótese 1: o CDS aprova o Orçamento. Hipótese 2: o PSD pressiona internamente o seu líder e Passos Coelho faz como Mário Soares há trinta anos, demite-se e entrega o partido aos seus "barões", ficando na reserva para um regresso que lhe dê razão. Hipótese 3: o PS pressiona José Sócrates, que entrega a liderança do Governo. Qualquer destas propostas é muitíssimo improvável. Vamos para crise. 

Perante a iminência de intervenção externa em Portugal, esta ruptura só pode justificar-se por uma razão: Sócrates e Passos Coelho já assumem que a probabilidade de termos de pedir ajuda externa em 2011 é elevada. Não querem ficar colados a esse fracasso. E portanto estão a empurrar a responsabilidade de um para o outro. Com uma diferença: a responsabilidade, formal e empossada, é do Governo, não é da oposição. E foi o Governo quem extremou a ruptura sempre que o PSD se aproximou. Fê-lo em Nova Iorque, quando Sócrates revelou uma conversa privada com Passos Coelho, denunciando uma quebra das negociações que o PSD desmentiu. Fê-lo ontem, quando depois das propostas do PSD Silva Pereira foi irreversivelmente agressivo. Sócrates quer cair agarrado ao corpo de Passos Coelho, usando-o como colchão ao embater no chão, matando-o politicamente e salvando-se a si. Até ontem, Passos Coelho caiu como um patinho em cada provocação. 

Assumamos a gravidade da situação. Não é apenas a impopularidade dos cortes nem a recessão que se avizinham que estão em causa. Portugal terá em 2011 - repito-o - um problema grave de liquidez. O risco de não haver credores que nos emprestem o ror de dinheiro que a economia precisa de refinanciar é muito grande, sobretudo em Abril e Maio. Ter Orçamento do Estado é a condição necessária mas nem sequer suficiente para evitar o socorro externo. Sem Orçamento, entregamos já os pontos. 

Os alemães olham para os portugueses como os portugueses olham para o BPN: com a raiva de contribuintes inocentes que subsidiam o fracasso alheio. Não esperemos, pois, a graça germânica, que ainda esta semana fez aprovar no Ecofin um acordo para um quadro de resolução de crises em casos de reestruturação de dívida, eufemismo para a quebra de pagamentos de um País. 

Portugal não está hoje a discutir nem a proposta do Orçamento do PS nem as condições do PSD. Está a discutir a sua autonomia de política económica. 

Eis a crise completa, que cristaliza em 2011. Preparamo-nos para pedir ajuda ao Fundo Europeu de Emergência e recorrer ao FMI. De todos os países que há no mundo, logo tinha de ser Portugal a ter governantes destes.







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