por JORGE FIEL
A quem não sabe quecar até os testículos atrapalham" é a frase (traduzida para português de Lisboa) que o meu amigo Abílio (nome fictício) usa para comentar casos de incompetência grotesca como o que está em cartaz nas Scut do Norte.
Depois de termos dado cartas com a invenção da Via Verde, voltamos a surpreender ao implantar aquilo que o El Mundo classifica como "o mais caro e caótico sistema de portagens do mundo".
António Mendonça é a cara desta paródia patética que consiste em tentar sacar, até ao final do ano, uns milhões (53 milhões, na visão optimista de Almerindo, 15, na previsão mais prudente do secretário de Estado Paulo Campos) aos parolos do Norte que usam auto-estradas do Grande Porto, Costa de Prata ou Norte Litoral - a célebre A28, que passa a ser a mais cara de todo o País.
Não obstante ter um ligeiro ar de secretário de Estado, este Mendonça até parecia simpático, mas as aparência iludem e apesar de estreante aprendeu depressa que a vocação de um político de carreira é fazer de cada solução um problema.
O plano para cobrar portagens no Norte é um hieróglifo indecifrável e tão imbecilmente sublime que a sua única coerência reside no facto de nada daquilo fazer sentido.
Estou a pensar, por exemplo, na argumentação de invocar o interesse nacional para desobedecer ao Tribunal Central Administrativo do Norte, que aceitou a providência cautelar interposta pelos municípios da Maia e vale do Sousa.
Estou a pensar, também, na dispensa do parecer prévio da Comissão Nacional de Protecção de Dados, obrigatória quando se está a fotografar matrículas.
Estou a pensar, ainda, no autismo de obrigar um galego a gastar 77 euros para vir ao Porto, ignorando a importância da Galiza na economia da região - o espanhol é a língua mais falada ao fim de semana no Ikea de Matosinhos e no Factory de Vila do Conde, 420 mil galegos usam anualmente o Aeroporto Sá Carneiro, uma das principais portas de saída (a par do porto de Leixões) das roupas da Zara.
Estou a pensar, por último, na balbúrdia que envolve a venda dos identificadores, na discriminação do Norte e na resposta mal educada que o ministério deu quando o presidente do Eixo Atlântico pediu informações - mandou-o ligar para um call center.
Ao não chumbar o diploma que gerou este aborto, o PSD tornou-se cúmplice nesta palhaçada. Apesar disso, Rui Rio esteve bem (até os relógios parados dão a hora certa duas vezes por dia) quando pediu a demissão do ministro. Mas não podemos esquecer a sabedoria do provérbio umbundo: "Se vires um cágado em cima de uma árvore, foi porque alguém o pôs lá." E todos sabemos quem pôs o cágado Mendonça empoleirado no ministério.
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