19.10.10

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O dito e o não dito


A acusação de Manuel Alegre de que "o Presidente [da República] tem feito deslocações, visitas aos seus bastiões eleitorais, inclusivamente em sítios onde, segundo me disseram, vão recrutar crianças às escolas com bandeirinhas, como em tempos que deviam estar no passado" era, afinal, uma metáfora.
Quem o assegura é o seu director de campanha, que informa ainda que, quando Alegre disse que "o Presidente [da República] tem feito deslocações, visitas aos seus bastiões eleitorais, inclusivamente em sítios onde, segundo me disseram, vão recrutar crianças às escolas com bandeirinhas, como em tempos que deviam estar no passado", o que, muito cristalinamente, queria dizer era que "há iniciativas cénicas num momento difícil, obviamente, numa perspectiva de montar cenários". Desconhece-se é o que quererá, por sua vez, isto dizer e, querendo dizê-lo, porque é que não o diz. Sabe-se, desde Aristóteles, que "não é ofício do poeta narrar o que aconteceu, mas, sim, o que poderia ter acontecido", e desde "A República" de Platão, que aquilo que, nas fábulas, deve ser condenado é a mentira "que não possui beleza".
Ninguém me peça para discorrer sobre a beleza da fábula eleitoral do poeta candidato. Mas convenhamos que, se era, de facto, sua intenção dizer que "há iniciativas cénicas (...) numa perspectiva de montar cenários", fez muito bem em dizer outra coisa. Ao menos o que disse é Português.

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