3.2.10

1695



Contas cruzadas



Carlos Marques de Almeida 

Equilibrar o Orçamento é como ir para o Céu – todos querem lá chegar, mas ninguém é capaz de fazer o mínimo para lá chegar.
O Orçamento de Estado para 2010 nem sequer sofre desta ilusão, uma vez que assume os comportamentos desviantes do Governo sem vergonha ou omissão. Pode dizer-se então que estamos perante um Orçamento realista? Talvez. Mas a forma da besta com 8.3% no ´deficit' e 85.8% na dívida pública desfaz o mito urbano e socialista de uma governação competente. A maioria moral que governou o país nos últimos cinco anos conseguiu o feito de atrasar Portugal por mais dez anos. O primeiro-ministro Sócrates pode orgulhar-se de ser o autor de mais uma década perdida. No meio de uma crise estrutural agravada por uma pesada crise internacional, o primeiro-ministro só pode ser a imagem de mais um herói improvável. A verdade é que o Orçamento é uma peça desgarrada, uma alavanca solta de um Governo sem engrenagem. Não há visão ou propósito, não há confiança nem ambição. Salve-se pois o pouco que ainda resta.
Politicamente, o Orçamento é um ponto zero, é a negação da Legislatura anterior. O Governo vem exibir ao sufrágio público o fiasco político e o colapso de mais uma modernização. Aliás, basta observar o clima político que envolve o país. O primeiro-ministro foge do debate puro e duro e vive numa redoma rosa em que cada discurso completa mais um momento zen. O Governo tem uma estratégia defensiva e conformista em que a apatia alterna com a excitação. O primeiro-ministro transformou a governação numa espécie de ‘road show' para português ver. Junte-se ainda o elemento da chantagem política virada para a Oposição e apontada contra a Presidência da República. A chantagem do Governo é a fonte da instável estabilidade em que o país vive. Mas a Oposição também não prima pela eficácia neste cenário turbulento. Na questão política do Orçamento, a esquerda radical revela a sua estrutural inutilidade, agarrada a um estatismo reciclado e suicida. As direitas, perdidas e sem projecto, são o velho abono de família de uma esquerda moderada e envergonhada no PS. Assim se explica um Orçamento à medida da conveniência do Governo e à escala da monstruosa inconveniência dos portugueses. O Orçamento é o resíduo das oportunidades perdidas pelo Governo e pelo país.
No entanto, no centenário da República, o Governo celebra cem dias de política. Cem dias de Governo equivalem a cem dias de um país em estado de coma. A República sectária, instável, violenta e nada democrática parece constituir uma inspiração para o Governo. Fraca e pobre inspiração. Na confusão de tamanho anacronismo, o Governo anuncia os infalíveis "cheques-bebé". O primeiro-ministro só pode ser um génio da política ao serviço de um país maléfico e ingrato.

1 comentário:

JOSÉ MODESTO disse...

São de facto contas cruzadas, em todo caso se necessitarem de transporte, estarei disponivél para dar as cotações (em contentores-navios)óbviamente para o suposto destino(s) que não o céu...

Saudações Marítimas
José Modesto