Dramatizações políticas e outras
por Ana Sá Lopes,
CADA VEZ QUE acontecia uma discussão mais embirrante, o Zé, o terceiro dos ex-maridos da Vanessa, simulava a iminência de um ataque cardíaco. Agarrava-se ao peito, revirava os olhos e, evidentemente, a discussão acabava ali, com a Vanessa a telefonar para o INEM, quando estava em causa um tema shocking, ou a sacar a caixa das aspirinas da gaveta dos medicamentos, se o drama em questão fosse do género light. E assim foram vivendo, enquanto a Vanessa, carregada de culpa pela morte anunciada, se esforçou por não radicalizar a coisa. Isto foi quase há 15 anos e ainda no sábado passado vi o Zé, feliz, embriagado e a fumar que nem um bruto, borrifando-se para o dr. Fernando Pádua mais a prevenção cardíaca.
A Vanessa lembrou-se disto quando apareci lá em casa para beber um café exactamente na altura em que o dr. Teixeira dos Santos, o ministro das Finanças, anunciava ao país a iminente crise política e a impossibilidade de prosseguir a governação se fosse aprovada a lei que manda para a Madeira os dinheiros reivindicados pelo dr. Jardim, apoiado pelos comunistas.
- Eh lá! Mas se isto acontecer o governo demite-se mesmo? perguntou, enquanto olhava para o ar sofrido de Teixeira dos Santos depois de tantas noites a sonhar com o défice.
De repente vieram-lhe à cabeça as cenas do Zé e desatou às gargalhadas.
- Ó pá, e aquelas vezes todas que eu telefonei para o 115! E vinha a ambulância e o gajo ia para o hospital! E eu pensava que era o fim! Lembras-te? Fogo, os homens são todos iguais!
no I
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