Carlos Lopes, do PS, é suspeito de crimes de corrupção e financiamento partidário ilegal
O ex-deputado do PS Carlos Lopes é arguido por suspeita de crimes de corrupção e financiamento partidário ilegal, cometidos, presumivelmente, na angariação de donativos de construtores, nas autárquicas de 2005.
Carlos Lopes foi investigado pela Polícia Judiciária (PJ) por alegadamente ter exercido influência directa, junto de empresários da construção civil, para obter fundos para a recandidatura de Fernando Manata, do PS, à presidência da Câmara de Figueiró dos Vinhos (CMFV), distrito de Leiria. As eleições, de Outubro de 2005, seriam ganhas pelo PSD.
Além de coordenador da campanha dessa recandidatura, Carlos Lopes já era deputado à Assembleia da República (AR). E, segundo a investigação, terá invocado a condição de deputado, e os contactos que ela lhe proporcionava, para melhor convencer construtores a darem dinheiro, em numerário. Para o efeito, chegou a utilizar as instalações da AR para reuniões com alguns empresários, apurou a Unidade de Combate à Corrupção da PJ.
O inquérito, desencadeado por uma denúncia anónima, é dirigido pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP). E foi atrasado pela morte da procuradora Manuela Rego e pela sua substituição por Orlando Figueira, o actual titular.
Mas a imunidade parlamentar de Carlos Lopes também não ajudou. Em Março passado, um juiz pediu que ela fosse levantada e, dois meses depois, a Comissão de Ética da AR acedeu. Mas Carlos Lopes veio a ser o candidato do PS à presidência da CMFV, nas últimas autárquicas, que perdeu, e só recentemente seria constituído arguido.
Quando a investigação foi remetida para o DCIAP, em Julho passado, o processo tinha 13 arguidos (Carlos Lopes é o 14.º). Além de Pedro Lopes, ex-vereador e irmão de Carlos, e de Luís Silveirinha, técnico superior da autarquia e mandatário financeiro da campanha de 2005, todos os outros são construtores. E, maioritariamente, com empreitadas realizadas em Figueiró. Quase todos os arguidos foram alvo de buscas da PJ, em 2006, que também visitou a autarquia.
As suspeitas de corrupção são sustentadas, nomeadamente, em alegadas promessas feitas, a quem contribuísse com donativos, de novas obras públicas no município, se o PS vencesse as eleições. O que não veio a suceder, apesar de Carlos Lopes ter dito a empresários, em telefonemas escutados pela PJ, que o PS tinha um estudo, da Eurosondagem, que lhe dava 22 pontos de avanço sobre o PSD. Ainda assim, argumentava que o PSD estava a utilizar muitos meios na campanha e que o PS não podia facilitar.
O PS de Figueiró, a cuja concelhia presidiu Carlos Lopes, contabilizou despesas e receitas de campanha de 40 mil euros, mas, efectivamente, terá recebido 67 mil (29 dos quais de subvenção pública) e gasto 64 mil. Apesar de só ter recebido a denúncia e começado a investigação, com escutas, na pré-campanha, a PJ foi a tempo de ouvir Lopes, que também era candidato à Assembleia Municipal, a pedir parte daquele diferencial de 27 mil euros, não declarados. A angariação de fundos, porém, terá sido iniciada ainda em Fevereiro de 2005.
O JN tentou ouvir Carlos Lopes, através do seu advogado, mas sem sucesso.
De mediador de segurosa deputado
Licenciado em Administração Regional e Autárquica, Carlos Alberto dos Santos David Lopes foi, além de mediador de seguros, chefe da Divisão Administrativa e Financeira da Câmara de Figueiró dos Vinhos e chefe de gabinete do ex-presidente da autarquia, Fernando Manata. No PS, exerceu funções de presidente da Comissão Política Concelhia de Figueiró dos Vinhos e cargos na Distrital de Leiria. Em 2005, foi coordenador da campanha de recandidatura de Fernando Manata à presidência da Câmara de Figueiró, e integrou as listas de candidatos a deputado do PS. Mas num lugar que só lhe garantiu assento no Parlamento após o candidato Alberto Costa ter sido nomeado ministro da Justiça. Este ano, ficou de fora das listas das legislativas e foi o militante escolhido para tentar reconquistar a Câmara de Figueiró dos Vinhos ao PSD. Perdeu e assumiu o cargo de vereador, na oposição.
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