19.11.09

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Nova criminalidade

A imaginação penal dos portugueses é prodigiosa, inventamos crimes com a mesma facilidade que inventamos reformas penais. Há uns anos gozou de efémera fama o crime de "homicídio por audiovisual", tipificado, num inédito momento de inspiração jurídica, por um médico do futebol.

Agora fazem escola, ao lado do "assassinato político", que se verifica sempre que um político é apanhado com a boca na botija da corrupção, o "assassínio de carácter" e o "homicídio de carácter", cujos elementos constitutivos concorrem quando alguém envolvido numa situação pouco transparente é mortalmente atingido nesse doloroso e recôndito património da sua personalidade. Aparentemente os criminosos portugueses estarão a evoluir do ripanço, do "carjacking" e da clássica sacholada em disputas de águas para bens mais subtis e, em vez das carteiras, vão-se agora ao carácter das vítimas e assassinam-no. O lado positivo da coisa é que se tem apurado que há por aí, sobretudo em autarquias e empresas públicas, mais gente com carácter do que seria de supor. Pena é que isso só se descubra quando o carácter jaz morto e arrefece.

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