29.10.09

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O tornozelo de Ronaldo

Na posse do novo Governo voltaram a ouvir-se as mesmas palavras gastas de sempre: desenvolvimento, crescimento, inovação, modernização, emprego, solidariedade… Se as palavras se comessem (sobretudo a palavra "solidariedade", que é comprida e rotunda) seríamos um país farto.

Infelizmente não se comem e, segundo um estudo da Deco, há, em Portugal, 40 mil idosos a passar fome. Números afrontosos como este e os da pobreza costumam ser varridos pelo discurso político e mediático para debaixo do tapete da "modernização", da "inovação tecnológica" e quejandos (como que dizendo à maneira mordaz de Cesariny: "Assim como assim ainda há muita gente que come") ou brandidos como arma de arremesso durante as campanhas eleitorais e esquecidos mal acaba a contagem dos votos. A existência de tantos portugueses, os mais vulneráveis, com fome deveria encher-nos de culpa e de vergonha, deveria ser manchete dos jornais, notícia de abertura dos telejornais. Não é. É o TGV e o tornozelo do Cristiano Ronaldo. Ou a de que (lá vou eu ser acusado de "populismo") o Estado irá assegurar mais uns milhões a mais um banco.

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