Otelo ainda lhes mete medo
"Para mim, a manifestação dos militares deve ser, ultrapassados os limites, fazer uma operação militar e derrubar o Governo", disse Otelo à Lusa. A hoje corajosa e vociferante trupe de ressentidos do 25 de Abril logo viu aí o "apelo" a novo golpe de Estado, sacando ofegante do Código Penal (esqueceu-se do RDM) contra o agora coronel na reserva. No tinteiro deixou o inconveniente "para mim", que faz da afirmação mera expressão de uma opinião pessoal. Ou de uma convicção: "Estou convicto de que, em qualquer altura, se os militares estiverem dispostos a isso, podem avançar sempre para uma tomada de poder", disse ainda Otelo, no óbvio papel de "Monsieur" de La Palice.
A Renascença foi mesmo ao ponto de ridicularizar a PGR por esta não abrir um inquérito ao caso, "a não ser que factos posteriores o justifiquem", deitando-se a interpretar o que serão "factos posteriores", além de factos posteriores. Os resultados divergem: para o corpo da notícia, factos posteriores são... "consequências práticas", para o título já é... "golpe de Estado", coisa bem mais sonora e radiofónica.
A mesma gente não manifesta, no entanto, idêntico fervor democrático face aos recentes golpes de Estado, consumados e não imaginários, na Grécia e em Itália, países onde, por imposição do Deus Mercado e de Merkel e Sarkozy, seus profetas, governos resultantes do voto foram substituídos por governos "técnicos" sem mandato popular.
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