Preparem-se: Sócrates não quer mudar nada
José Sócrates não sabe ser primeiro- ministro - só sabe ser candidato a primeiro- ministro. Mesmo no momento mais grave dos seus muitos anos no governo, preferiu o espectáculo à sobriedade, preferiu a campanha à serenidade e preferiu a manipulação à verdade. Na
terça-feira à noite, servindo-se de informação privilegiada sobre as negociações com a troika, aproveitou-se do cargo de primeiro-ministro para atacar o seu principal rival nas próximas eleições. Em vez de tratar os portugueses como cidadãos, optou por tratá-los como urnas de voto.
Tendo a seu lado uma réplica empalhada do ministro das Finanças, José Sócrates sabia exactamente o que havia para anunciar ao País. Mas preferiu esconder tudo o que realmente interessava às pessoas que vão pagar as consequências da crise e falar sobre aquilo que não havia a anunciar: disse que não ia haver cortes no 1V nem no 14.0 mês, que não ia haver baixa de salários, que não ia haver diminuição de certos tipos de pensões, que não ia haver revisão constitucional e etc., etc., etc., numa longuíssima lista destinada a mostrar mais uma vez ao mundo que Portugal não está em crise e que a culpa da falta de dinheiro é apenas das irresponsabilidades do PSD e de Pedro Passos Coelho.
Foi um discurso revelador. José Sócrates está convencido de que a troika concorda com ele quando diz que as medidas do PEC IV eram suficientes para evitar a ajuda externa. Quer dizer: está convencido de que a entrada do FMI em Portugal era desnecessária porque o seu governo estava a salvar Portugal com competência e eficácia. Ouer dizer: está convencido de que não há nada de fundamental a mudar na forma como o País funciona. Ouer dizer: está convencido de que, muito em breve, vamos todos poder voltar aos nossos velhos hábitos despesistas.
TApertem os cintos de segurança: isto vai começar tudo outra vez.
Editorial da SÁBADO
Sem comentários:
Enviar um comentário