28.2.11

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Sócrates põe. Merkel dispõe

Em linguagem oficial, Sócrates "aceitou um convite da chanceler alemã Angela Merkel para uma reunião em Berlim no dia 2 de Março". Em linguagem comum, usada por alguns jornais para intitular a notícia, "Merkel chamou Sócrates a Berlim".

Entre uma e outra situa-se a controversa questão do livre arbítrio: será que o Homem (no caso, o nosso homem em S. Bento) tem de alguma autonomia face ao que a divindade (ou, como diz a dra. Ferreira Leite, "quem paga") dispõe? Em termos ainda mais simples, poderia Sócrates (ou outro nas mesmas circunstâncias) ter recusado o "convite"?
O encontro - marcado, por coincidência, para o dia de mais um dos animados leilões da dívida portuguesa - destinar-se-ia a "discutir" a flexibilização, pretendida por Portugal e a que a Alemanha tem posto as maiores reservas, do Fundo Europeu de Estabilização Financeira. Tendo porém em conta a capacidade negocial de Portugal na matéria, o mais certo é que a senhora Merkel tenha convocado Sócrates só para lhe comunicar o que já decidiu.
Sócrates tem dito e repetido que não quer o FMI a dar ordens em Portugal. Pelos vistos, prefere recebê-las directamente da senhora Merkel. Assim os portugueses sempre podem manter-se na ilusão de que, de 4 em 4 anos, elegem quem os representa e governa e não meros porta-vozes.
As crónicas estarão a partir de hoje de férias, regressando, se a senhora Merkel não dispuser outra coisa, em Abril.

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