28.5.09

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O ÓPIO DO POVO
ou 
a visita do marechal Soult ao Dr. Pinto
ou
como com papas e bolos se quer enganar os tolos


« Percebeu-se bem quanto o 2.º corpo foi obrigado a evacuar o Porto. Militares isolados e pequenos destacamentos que tinham sido deixados para trás foram acolhidos pelos habitantes e levados até ao exército: um mês antes, teriam sido invariavelmente massacrados. No entanto, eu tinha tido muito pouco tempo para conseguir semelhante mudança nos estados de espírito. Não tinha negligenciado nenhum meio para chegar a este resultado. Tinha-me ocupado particularmente do clero, que era na altura o poder dominante no país, e tinha feito várias conquistas nas suas fileiras, não somente dirigindo-me aos bispos, mas a todos os escalões da hierarquia eclesiástica cuja influência se fazia sentir mais directamente sobre as massas populares. Assim, existia em Matosinhos, perto do Porto, uma capela que era de grande veneração do país. Sabia por experiência que nada é de desdenhar para agir sobre o ânimo do povo, e pensei demonstrá-lo a este propósito. É necessário saber entrar nos costumes locais e falar a lingua que as massas compreendem. Lembro-me que no Egipto o general Bonaparte  tinha habilmente posto este princípio em prática.»

(Memórias do Marechal Soult
Livros Horizonte, 2009)

EDITAL
Nós, Marechal do Império, duque da Dalmácia, governador-geral de Portugal: tendo em consideração a devoção total que todos os habitantes de Portugal têm pela santa imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo que se encontra na igreja de Matosinhos e conhecida sob a invocação de Senhor Bom Jesus de Bouças. E sendo nossa vontade dar testemunho público e perpétuo do respeito e de veneração que os militares franceses têm pela nossa santa religião, bem como de consideração pelos seus ministros, decretámos o seguinte:
ARTIGO PRIMEIRO -Uma lamparina de prata será oferecida em nome de Sua Magestade o Imperador Napoleão, para ser colocada na igreja de Matosinhos e dedicada ao Senhor Bom Jesus de Bouças.
ARTIGO SEGUNDO - O censo atribuído ao pároco de Matosinhos, 40 000 réis, e o ordenado do sacristão, 20 000 réis, serão duplicados a partir do presente despacho.

(Edital em francês e português,afixado por ordem do marechal Soult no Porto e arredores.
ibidem)

Ou seja, digo eu, o marechal Soult a quem apenas interessava o Senhor de Matosinhos para efeitos de acção psicológica, só cá veio duzentos anos depois , e para ficar na fotografia com o Dr. Pinto.   

2 comentários:

leixão disse...

o "ibidem" foi para mostrar cultura

Manuel Silva disse...

Claro...e também gostavam do TINTO e do Bom..