10.12.11

A palidez de Sarkozy




Por Ana Sá Lopes
Era preciso um bode expiatório para o fracasso e a matilha escolheu Cameron



Um homem saiu derrotado da cimeira europeia de ontem: Nicolas Sarkozy. Essa derrota antecipará, provavelmente, a sua derrota nas eleições francesas do ano que vem. Sarkozy não é o único derrotado: todos os países do euro, a começar pelos mais frágeis, estão derrotados, condenados a optar entre más e péssimas soluções para gerirem as suas crises. Mas a derrota da França é particularmente simbólica quando a falta de uma solução global e forte para resolver a crise do euro indica que, mais cedo do que tarde, “la France” vai perder o rating de grande potência nos mercados. Sarkozy cedeu em toda a linha à verdadeira presidente não eleita da Europa: Angela Merkel.
Até lá, a Europa vai ter de gerir os juros astronómicos que a Itália está a pagar, sabe Deus como. Saberá Deus, porque não sabe mesmo mais ninguém. Os fundos de resgate – ainda que aumentados – não têm dinheiro para emprestar à Itália quando a Itália, à beira do precipício, cair. Evidentemente, também não têm dinheiro para “salvar” a Espanha.
Ontem as bolsas subiram. Como dizia Paul Krugman – um emérito Prémio Nobel que também é um fantástico blogger –, ninguém percebe porque é que as bolsas sobem, tendo em conta a fragilidade dos resultados. Mas tem sido um “must” a seguir a todas as cimeiras potencialmente salvadoras do euro: depois de escrito um comunicado do Conselho Europeu, as bolsas sobem sempre. O problema é que a animação costuma durar três dias. O terror do fracasso do euro tem-se sobreposto aos discursos sobre os “avanços”. De resto, já ontem os seguros contra o risco do incumprimento da dívida – que em economês se chamam CDS, Credit Default Swaps – dispararam. Ninguém de bom senso pode acreditar que a cimeira resolveu qualquer problema estrutural do euro.
O mais curioso foi a reacção dos líderes europeus ao murro na mesa desencadeado por David Cameron ao rejeitar entrar no colectivo. Era preciso um bode expiatório para o fracasso da solução e a matilha virou-se para Cameron. Era esperado que David Cameron – o mais eurocéptico dos primeiros-ministros britânicos – fizesse outra coisa? Cameron nunca poderia fazer qualquer mudança na relação com a União sem um referendo. Esta foi uma solene promessa eleitoral de um homem que fez os tories sair do Partido Popular Europeu por ser demasiado europeísta.
O problema não é Cameron, cujo país nem faz parte da zona euro. O problema é a palidez de Sarkozy – que, mais do que perturbado com Cameron, está a pensar que, muito em breve, vai perder o seu triplo A, as eleições de 2012 e o euro.

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