11.6.11

Tão amigos que nós eramos - 2


O Cabo Submarino

Velhos vícios

O consulado Sócrates merecerá vários tipos de análise. Hoje centro-me nos efeitos dele sobre o PS.
Por:Medeiros Ferreira, Professor Universitário
Como declaração de abertura, esclareço que não fui seu apoiante desde a primeira eleição para SG em Outubro de 2005. Dois meses depois desta, foram convocadas legislativas, cujos resultados foram os melhores alguma vez alcançados pelo PS, atingindo a maioria absoluta. Refira-se que, pouco antes, o PS, ainda sob a direcção de Ferro Rodrigues, já havia averbado um score esmagador nas europeias. Depois de 2005, porém, os candidatos apoiados pelo partido governamental começaram a somar derrotas: Manuel Maria Carrilho nas autárquicas de 2005, Mário Soares nas presidenciais de 2006, Vital Moreira nas eleições para o PE em 2009. Eram sinais mais do que suficientes para a direcção do partido se indagar em consciência sobre o que iria mal na governação. A ausência de reacção significava que a oligarquia se sentia satisfeita no governo e com o governo. Mas a verdade é que todos os candidatos apoiados por José Sócrates perdiam as eleições no país. Mesmo sendo fortes.
Concentrados os esforços, os meios e as medidas governamentais nas legislativas de 2009, Sócrates venceu-as, mas descendo no número de deputados, e ficando privado da maioria absoluta em que tinha moldado o seu modo de governar. Percebeu-se que a nova legislatura não chegaria ao fim. Entretanto, a crise internacional e interna agravava-se sem saída à vista. Que fazer com José Sócrates?
Fui dos que defenderam que, nas circunstâncias dilemáticas em que se encontravam o primeiro-ministro e o PS, devia ser José Sócrates o candidato presidencial. Mesmo que não vencesse Cavaco Silva, abria caminho à sua sucessão dentro do PS e tomava a iniciativa de um rumo, em vez de ser um paciente do destino que se anunciava.
O PS partiu para as presidenciais com um candidato que não as ganharia certamente. Manuel Alegre tomou o caminho da cruz dos seus antecessores sacrificados ao situacionismo mais egoísta de uma oligarquia que alcançara o poder mais pela sorte das circunstâncias do que pelos méritos prévios apresentados. Tudo isto estava previsto nos verdadeiros manuais da arte política.
Sócrates acabou por se demitir face à derrota de domingo. Mas há outros responsáveis. Basta retransmitir na íntegra o último congresso do PS. Houve quem preferisse levar o líder ao colo até ao cemitério. Alguns chamam a isso ‘ética partidária’. Mas perversa…

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