O importante é escolher o timing da espada
por Ana Sá Lopes,
Entre quarta e sexta-feira o governo demite-se. E isso é o melhor que pode acontecer tanto a Passos como a Sócrates. Em partes iguais
Entre as metáforas quotidianas que repetimos sem que nos ocorra questionar o seu sentido está aquela em que alguém é tão, tão corajoso e tão, tão destemido que "entre a espada e a parede prefere sempre a espada". É a chamada metáfora sem interesse nenhum. Não existe nenhuma escolha, nem sequer direito de preferência, entre a espada e a parede. Seja por avanço seja por recuo, acaba-se sempre morto - ou inapelavelmente ferido pela espada. Porque diabo se terá popularizado a ideia de que um tipo corajoso e determinado prefere sempre a espada? Antecipa a morte cinco minutos? E isso é em si algo de relevante ou eventualmente louvável? No fim está sempre a espada.
Esta metáfora tem sido aplicada variadíssimas vezes, e equitativamente, entre quem percebe (e adora) a extraordinária resiliência do primeiro-ministro e entre quem a odeia e não a percebe de maneira nenhuma. A ideia de que Sócrates escolhe "a espada", em alguns momentos, em vez da parede é em si um absurdo. A parede e a espada são em si a mesma coisa - um prenúncio de morte. Não há escolha possível.
Em política, o que se pode escolher não é a espada em vez da parede, mas o momento em que se pode ficar entre a espada e a parede. E esse, evidentemente, José Sócrates escolheu-o primorosamente.
Não havia melhor timing para abandonar uma situação de pressão financeira, com a obrigação de cumprir as ordens da senhora Merkel e da sua nova governação europeia. Não havia melhor altura para sujeitar o PS a votos - uma derrota folgada será sempre encantadora para um partido que se arriscava a acabar, depois de toda a austeridade somada e diminuída, nos níveis do PS de Almeida Santos em 1985, no pós-Bloco Central associado ao FMI.
Ao facilitar a ideia, também Passos Coelho tem a ganhar por se pôr neste momento entre a espada e a parede. Era impossível ao líder do PSD continuar coadjuvante das políticas governamentais sem que nos próximos meses isso acabasse por o derrotar dentro do próprio partido. A hipótese de Pedro Passos Coelho chegar a primeiro-ministro é agora - e não daqui a um ano.
O fim do estado de graça do líder do PSD foi rápido e provavelmente a desastrada apresentação do projecto de revisão constitucional marcou um ponto de não retorno. Seguiu-se a interminável embrulhada à volta do Orçamento e a confusão em torno das alegadas alternativas. Hoje são cada vez mais aqueles que dentro do PSD duvidam das suas capacidades para levar o partido à "vitória final" (incluindo alguns dos antigos membros do chamado núcleo duro).
Assim, não existe alternativa ao chumbo das medidas, por muito que o governo tenha inventado um simulacro de diálogo à última hora apenas por razões tácticas - as de afastar de Sócrates o ónus da abertura da crise política.
Entre quarta e sexta-feira o governo demite-se. E isso é o melhor que pode acontecer a Passos e a Sócrates, quase em partes iguais.
Esta metáfora tem sido aplicada variadíssimas vezes, e equitativamente, entre quem percebe (e adora) a extraordinária resiliência do primeiro-ministro e entre quem a odeia e não a percebe de maneira nenhuma. A ideia de que Sócrates escolhe "a espada", em alguns momentos, em vez da parede é em si um absurdo. A parede e a espada são em si a mesma coisa - um prenúncio de morte. Não há escolha possível.
Em política, o que se pode escolher não é a espada em vez da parede, mas o momento em que se pode ficar entre a espada e a parede. E esse, evidentemente, José Sócrates escolheu-o primorosamente.
Não havia melhor timing para abandonar uma situação de pressão financeira, com a obrigação de cumprir as ordens da senhora Merkel e da sua nova governação europeia. Não havia melhor altura para sujeitar o PS a votos - uma derrota folgada será sempre encantadora para um partido que se arriscava a acabar, depois de toda a austeridade somada e diminuída, nos níveis do PS de Almeida Santos em 1985, no pós-Bloco Central associado ao FMI.
Ao facilitar a ideia, também Passos Coelho tem a ganhar por se pôr neste momento entre a espada e a parede. Era impossível ao líder do PSD continuar coadjuvante das políticas governamentais sem que nos próximos meses isso acabasse por o derrotar dentro do próprio partido. A hipótese de Pedro Passos Coelho chegar a primeiro-ministro é agora - e não daqui a um ano.
O fim do estado de graça do líder do PSD foi rápido e provavelmente a desastrada apresentação do projecto de revisão constitucional marcou um ponto de não retorno. Seguiu-se a interminável embrulhada à volta do Orçamento e a confusão em torno das alegadas alternativas. Hoje são cada vez mais aqueles que dentro do PSD duvidam das suas capacidades para levar o partido à "vitória final" (incluindo alguns dos antigos membros do chamado núcleo duro).
Assim, não existe alternativa ao chumbo das medidas, por muito que o governo tenha inventado um simulacro de diálogo à última hora apenas por razões tácticas - as de afastar de Sócrates o ónus da abertura da crise política.
Entre quarta e sexta-feira o governo demite-se. E isso é o melhor que pode acontecer a Passos e a Sócrates, quase em partes iguais.
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