Direito ao Assunto
O suicídio
Já tínhamos ouvido o ministro Vieira da Silva, a propósito do caso Face Oculta, acusar os magistrados de "espionagem política". Na quarta-feira, ficámos a saber que o vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Ricardo Rodrigues, acredita que essa "espionagem" terá servido a oposição, supostamente na posse das "escutas" ao primeiro-ministro desde Junho. Em suma, segundo os líderes do partido governante, a justiça portuguesa teria funcionado, neste caso, como um serviço de informações partidário.
Silva e Rodrigues não são comentadores desesperados, a tentar cativar as atenções pela extravagância das suas teses. Torno a lembrar: um é ministro e o outro vice-presidente do maior grupo parlamentar. Nenhum deles confia na isenção do sistema judicial, nem na limpeza do confronto político.
Se falam verdade, pouco nesta democracia é a sério, não tendo o governo, como se deduz, meios para obviar à sua degradação. Se não falam verdade, seremos forçados a admitir que andamos a ser governados por patuscos, sem pejo de pegar fogo ao regime só para marcar uns pontos partidários. Não vale a pena discutir o que é pior.
Com o episódio da "espionagem", o caso Face Oculta ajudou-nos a perceber como o regime vai acabar: desacreditado, de uma maneira ou de outra, pela sua própria nomenclatura. Aliás, é quase sempre assim que os regimes morrem: por suicídio.
Rui Ramos, Historiador
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