António Parada, líder da concelhia, diz que "nenhum socialista será excluído, porque o partido precisa de todos". Mas há quem vaticine cisões no PS, caso Narciso regresse às listas, como Orlando Gaspar sugere
As eleições autárquicas em Matosinhos podem vir a transformar-se num barril de pólvora para o PS, se Narciso Miranda vier a ser "recuperado", como alguns defendem, para as listas do partido nas eleições autárquicas de Outubro, que serão um difícil combate para os socialistas. Aquele que chegou a ser considerado pelo PS como autarca modelo foi, entretanto, expulso do partido, na sequência dos confrontos entre socialistas (quem não sabe do que escreve ou faz favores, escreve asneiras), numa acção de campanha na lota de Matosinhos em 2004, que ficaram marcados pela morte, por crise cardíaca, de Sousa Franco.
Nos últimos tempos tem havido movimentações por parte de alguns militantes do PS junto do líder da federação distrital do partido, José Luís Carneiro, no sentido de se encontrar uma solução que evite que a área socialista tenha três candidatos a disputar a liderança da câmara: o actual presidente da autarquia, Guilherme Pinto; o vereador na oposição Narciso Miranda; e o líder da concelhia do PS, António Parada, que também preside à Junta de Freguesia de Matosinhos.
A solução seria convidar Narciso Miranda para encabeçar a lista do PS à presidência da Assembleia Municipal. Desta forma, Narciso, que em 2009 se candidatou contra o PS, encabeçando a lista do Movimento Matosinhos Sempre, não seria candidato, dando assim um sinal de apoio a António Parada, que a concelhia já designou cabeça de lista à câmara.
"Partindo do princípio de que António Parada será o candidato do PS à Câmara de Matosinhos e, segundo boatos, que Guilherme Pinto avançará como independente, deveríamos todos fazer um esforço para que Narciso Miranda aceitasse ser cabeça de lista do PS, como independente, à Assembleia Municipal, o que nos daria um acrescentado conforto de manter a câmara no Partido Socialista", lê-se numa carta que Orlando Gaspar, um histórico do PS-Porto, escreveu ao líder da distrital. "Quer se queira quer não, Narciso Miranda é ainda uma grande referência em Matosinhos e o partido já há muito que o deveria ter recuperado, ressarcindo-o dos prejuízos morais que lhe foram injustamente infligidos [devido ao processo da lota de Matosinhos], face a outros prevaricadores dos estatutos do PS que saíram incólumes das suas tropelias", acrescenta Orlando Gaspar. Desta forma, considera este militante conotado com o ex-líder do partido José Sócrates, "evitar-se-ia" que houvesse três candidaturas da área socialista, e que se entregasse a "câmara de bandeja ao PSD", e assegurar-se-ia "uma pré-campanha e campanha eleitoral dignas de uma democracia adulta".
Orlando Gaspar argumenta que não é a primeira vez que o partido convida independentes para as suas listas. "Do meu ponto de vista seria mais benéfico do que prejudicial para o partido", sentencia, justificando que decidiu propor esta solução por ver que, em Matosinhos, "as posições estão muito extremadas".
Ao PÚBLICO, António Parada afirmou que "a concelhia do PS de Matosinhos não vai excluir ninguém", porque "o partido precisa de todos os socialistas". O candidato à câmara observa ainda que é preciso lucidez e olhar para o passado do partido em Matosinhos - "um passado e uma obra que respeitamos e que orgulha todos os socialistas", acrescenta.
Esta solução, porém, está longe de ser consensual. Fonte do PS lembrou ontem que Narciso foi candidato contra o PS há quatro anos e que o PSD só não ganhou então a câmara porque o candidato dos sociais-democratas - Guilherme Aguiar - não era uma figura suficientemente forte. E garantiu que, se Narciso regressar às listas do PS, mesmo que como independente, haverá uma cisão no partido em Matosinhos, que se estenderá ao distrito do Porto. Outra fonte socialista assegurava ontem que Narciso terá mostrado disponibilidade para encabeçar a lista para a Assembleia Municipal, mas terá apresentado uma condição: ser readmitido no PS. (Se for readmitido passa automaticamente a ser um socialista; e o partido precisa de todos...)
Na sequência dos incidentes da lota de Matosinhos, em Junho de 2004, entre apoiantes de Narciso Miranda e Manuel Seabra, durante uma acção de campanha de Sousa Franco, cabeça de lista às eleições europeias, o ex-presidente da câmara viria a ser expulso do PS. ( Repete a asneira, ou o serviço) Narciso recorreu da decisão para o Tribunal Constitucional e aguarda ainda uma última decisão deste órgão judicial.
Confrontado pelo PÚBLICO com a possibilidade de poder vir a protagonizar a candidatura do PS à Assembleia Municipal de Matosinhos, Narciso Miranda diz ter conhecimento da carta que foi enviada ao líder do PS-Porto, mas recusou fazer qualquer comentário. "Não devo e não quero."