Testemunha do caso Freeport diz que Sócrates sugeriu troca de arquitetos
O antigo diretor de operações da Benoy Architects disse esta quinta-feira que o então ministro do Ambiente José Sócrates forneceu uma folha com o nome e número de telefone da empresa de arquitetos Capinha Lopes para o Freeport.
Nicholhas Lamb, que falava através de videoconferência para o Tribunal do Barreiro como testemunha do processo Freeport, disse que José Sócrates alegou que a Freeport tinha os "arquitetos errados" (Promontório) e que "apoiavam o partido errado".
Segundo o diretor de operações da Benoy, que ocupou o cargo entre 1999 e 2002, tudo se passou numa reunião realizada em janeiro de 2002, já depois do chumbo do processo Freeport, com o então ministro do Ambiente José Sócrates.
"Não estive presente na reunião, mas segundo o que o sr. Rawnsley me disse, que foi quem esteve na reunião (diretor executivo do Freeport na altura e que já admitira em tribunal ter-se reunido com José Sócrates), o ministro disse que tinham os arquitetos errados", acrescentou.
"O que o ministro disse foi que o problema não era a Benoy, mas a equipa de arquitetos. Eram os arquitetos errados e apoiavam o partido errado", frisou.
Acrescentou ainda que José Sócrates terá dito que, com a equipa de arquitetos de Capinha Lopes, teriam "muito mais hipóteses de o projeto ser aprovado".
Nicholas Lamb disse ainda em tribunal que o que estava em causa no estudo de impacto ambiental realizado pela Promontório "não era a capacidade técnica nem de recursos humanos".
A testemunha mostrou-se ainda surpreendida por sempre lhe terem falado de um prazo de "seis a oito meses" para a realização de um estudo de impacto ambiental e de o projeto do Freeport ter sido viabilizado "em pouco mais de dois meses" depois da sua inviabilização.
E quando questionado pelo tribunal se a Capinha Lopes tinha mais experiência do que a Promontório naquele tipo de trabalhos, Nicholas Lamb disse perentoriamente que "não".
"Não, a Promontório tinha muita experiência, a Capinha Lopes não tinha essa experiência", afirmou.
Questionado sobre se tinha conhecimento de pagamentos a membros do Governo ou a partidos políticos para a viabilização do outlet de Alcochete, Nicholas Lamb disse que não, mas admitiu ter conhecimento da existência de conversas sobre "lobbying".
"Essas conversas eram sempre informais e ocorriam ao final da tarde, num hotel de Alcochete e estavam relacionadas com taxas de trabalho de lobbying, mas não tenho conhecimento de ter sido feito qualquer pagamento", disse.
Questionado pelo tribunal sobre se alguma vez tinha ouvido a expressão "envelopes castanhos", a testemunha disse que sim. "Sim, sim, nessas conversas foi referido o termo envelopes castanhos", garantiu.
A testemunha mostrou-se ainda surpreendida por a viabilização do Freeport "ter ocorrido dois antes de eleições [março de 2002], uma vez que "habitualmente, os estudos de impacto ambiental demoravam entre seis a oito meses".
O julgamento prossegue durante a tarde, com a audição de Keith Payne, autor do fax enviado a administradores do Freeport inglês em que fala explicitamente do pagamento de luvas de dois milhões de libras para o licenciamento do Freeport em Portugal.
O julgamento do Freeport tem como arguidos os ex-sócios Manuel Pedro e Charles Smith, acusados do crime de extorsão na forma tentada.
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