24.11.11



Fraca memória


Ninguém imaginaria, mas parece que um dos dois PCPs (porque há, pelo menos, dois: o que, a nível interno, se mostra comprometido com a causa dos oprimidos e o que, externamente, está ao lado de alguns dos mais opressores regimes políticos do Mundo) terá adoptado a norte-americaníssima teoria, que fez escola durante a Guerra Fria, do "he's a son of a bitch, but he's our son of a bitch".
A brutal repressão do regime de Bachar al-Assad sobre as manifestações pró-democracia já provocou, segundo a ONU, 3500 mortos. "Alegado saldo", acha o "Avante!" que, repetindo o ditador, escreve que os manifestantes são tão só "bandos armados suportados e dirigidos a partir do exterior", o mesmo, palavra por palavra, que a propaganda de Salazar dizia dos movimentos de libertação das ex-colónias.
"Milhares de pessoas de todos os credos e idades manifestaram-se, domingo, na capital da Síria, em defesa da unidade nacional e contra a ingerência externa nos assuntos do país e o terrorismo", afirma o jornal do PCP. Substitua-se "na capital da Síria" por "em Lisboa" e este poderia ser o "lead" da notícia do extinto "Diário da Manhã" de uma das muitas "manifestações de desagravo" organizadas pelo regime salazarista em apoio da Guerra Colonial: "unidade nacional", "ingerência externa", "terrorismo"...
A linguagem que usamos não é uma matéria neutra e, ou o PCP aprendeu de mestres pouco recomendáveis, ou tem péssima memória.

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