Menos que o "mínimo ético"
O DN de sábado trazia duas notícias que, na sua edição online, surgiam lado a lado: uma, do JN, na secção "Revista de Imprensa", intitulada "Estado usa ajuda camarária para cortar nos apoios", onde se dá conta de que "as famílias pobres que recebem dinheiro das câmaras para poderem pagar a renda ou a prestação da casa estão a perder o direito a receber outros subsídios do Estado, como o Rendimento Social de Inserção"; e uma outra, paralela, que revela que o "Comandante da GNR subiu 1137 euros o seu (próprio) salário", acrescentando o óbvio: que "A crise não é para todos nas forças de segurança. Os generais já se aumentaram".
O acaso - "divindade mais obscura que as outras", segundo diz Breton no "Manifesto" de 1924 - ter-se-á intrometido na paginação deixando à vista desarmada, sem preocupações de subtileza, a opção ideológica (resultante, recorde-se, do acordo entre um partido socialista e outro social-democrata) que preside à retórica dos "sacrifícios para todos" necessários para fazer face à crise: os "todos" das traseiras da escala social que a paguem.
Porque tanto a exclusão de centenas de milhares de pobres e desempregados de auxílios do Estado como o "auto-aumento" com retroactivos que, a poucos dias de deixar o cargo, o comandante-geral da GNR se atribuiu e ao seu 2º comandante, estão - ninguém duvide - perfeitamente dentro da lei. A lei é que talvez não esteja dentro da lei.
1 comentário:
Aqui uma quadra de António aleixo, que vai ao encontro da
crónica:
"Quem nada tem, nada come;
E ao pé de quem tem de comer,
Se alguém disser que tem fome,
Comete um crime, sem querer."
Um lavrense atento
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