11.9.09

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Águas pouco transparentes

Na "Ode ao ar" do início das "Odes elementales" que dedica às coisas simples, Neruda dirige-se assim ao "incansável" ar: "Monarca ou camarada,/ fio, coroa ou ave,/ não sei quem és, mas/ uma coisa te peço, não te vendas./A água vendeu-se/ e dos canos,/ no deserto,/ vi/ extinguirem-se as gotas/ e o mundo pobre, o povo/ caminhar sequioso/ cambaleando na areia".

A privatização, isto é, a entrega ao critério do lucro, de bens essenciais não é coisa que possa ser tratada como mais uma trica eleitoral e, feita a denúncia, não pode ser ignorada pelos partidos que se propõem ser governo.

É, pois, fundamental que tanto o PS como o PSD respondam à acusação do BE de que estará em curso um projecto de entrega da água que bebemos à cobiça privada. Sendo de procura quase inelástica, a água é um negócio altamente apetecível e, porque ninguém pode viver sem água, uma responsabilidade social elementar de que o Estado não pode demitir-se.

Se há assunto em que qualquer partido deve ser absolutamente transparente é o das suas intenções nesta matéria. E nem o PS nem o PSD o são, o que legitima todas as suspeitas.

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