um texto do Rui Viana Jorge:
O desastre do TGV
Começando por afirmar, que concordo com o principio “que o investimento público é necessário”, para o desenvolvimento da economia, não deixarei de afirmar também que á luz da dívida externa existente, esse mesmo investimento público, tem que ser criterioso.
Em 2004 a nossa dívida externa líquida era de 64% do PIB, enquanto que hoje atingiu já os 100,6%, ou seja aproximadamente 160.000 milhões de euros.
Perante estes números, somos obrigados a fazer escolhas, opções, sobre que obras públicas devem incidir os parcos recursos financeiros existentes.
Muito se tem falado do TGV, da alta velocidade, de comboios de velocidade elevada, termos que confundem (propositadamente?) a maioria dos Portugueses; vamos então ao esclarecimento que se justifica:
TGV, e Alta Velocidade, estamos a falar de composições ferroviárias que atingem 360km/h.
Comboios de velocidade elevada, são composições ferroviárias que atingem 220 a 240km/h.
No primeiro caso, não existe nenhuma estrutura (carris) capaz de poder suportar tais velocidades, o que quer dizer que tudo teria que ser feito de raiz, incluindo os percursos.
No segundo caso estamos a falar de composições tipo Alfa Pendular, que circula já nas linhas existentes.
Vejamos alguns números:
Custo por km do TGV rondam os 14 milhões de euros; ou seja mais de 7.000 milhões de euros para as linhas pensadas. Mais do dobro do custo do novo Aeroporto.
Comparemos os tempos do percurso Porto – Lisboa nos dois casos:
Alfa Pendular a partir deste mês com as paragens que existem passa a demorar 2h e 35m.
O que pode ainda ser bastante melhorado (2h e 20m) dado atingir velocidades de 240km/h.
O TGV fará o mesmo percurso em 1h e 15m.
Há entre os dois uma diferença de mais ou menos 1h e 15 minutos, favorável ao TGV.
Convém esclarecer que num percurso Porto – Lisboa uma composição tipo TGV, é um perfeito disparate introduzir paragens, dado o tempo/kms que este demora quer a parar quer a atingir a sua velocidade cruzeiro.
Por isso se pensa sempre em TGV para distâncias bem superiores a 300kms.
Será compensador na situação actual de endividamento externo optar pelo TGV com custos aproximados de 35% do nosso PIB, em vez de modernizar as linhas existentes, pondo Alfas Pendulares a percorrer o País,ao mesmo tempo que se fosse projectando uma linha para mercadorias e seus interfaces, que servissem para aliviar a carga de transito rodoviário de camiões TIR, que dentro de muito pouco tempo terão custos incomportáveis, devido aos preços dos combustíveis, além dos riscos de segurança?
Ninguém acredita na rentabilidade deste projecto. Claro que todos os Portugueses, sabem que mais cedo que tarde, vai ser o Estado a suportar os custos de exploração e manutenção,desviando assim fundos que se antevê, virão sempre do mesmo sitio; da cota social, ou seja das pensões e saúde claro está.
Quero com isto dizer que esta opção é demasiado perigosa para ser defendida, correndo o risco de hipotecarmos o País às gerações futuras.
Termino dizendo que não falei aqui da “praga Nacional” que são as derrapagens de tais obras que tanto dinheiro dão a ganhar vá-se lá saber a quem.
ruivianajorge@kanguru.pt
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