1.10.09

1292





Discurso e violência

A desastrada (porque ficou pelas meias tintas, sendo que tintas inteiras teria sido Cavaco dizer com clareza se suspeita ou não de que está a ser escutado pelo Governo em vez de pretender dizer mais do que diz sem o dizer) declaração do PR suscitou um "tsunami" só comparável à expectativa que havia criado.

"O desastre, escreve Châtelet, advém no momento em que os movimentos forçados prevalecem (…) sobre os movimentos naturais". O que seria natural era que Cavaco, já que diz ter sido "forçado" a falar, falasse. A "notícia" (chamemos assim àquilo) plantada no "Público" por um assessor de Belém de que a Presidência da República suspeitaria de estar a ser alvo de escutas foi um acto político (um acto de violência política). De Cavaco exigir-se-ia um gesto politicamente esclarecedor e não que se refugiasse na psicologia. Acontece que a psicologia é também, como Deleuze ensina, uma política, e que o confuso discurso diplomático por que Cavaco optou contém, "aninhada em si mesmo", violência política idêntica à do acto que o gerou. Se não fosse fazer também psicologia, estaríamos a falar de hipocrisia.

Sem comentários: