A outra Ferreira Leite
Ao contrário de Sócrates no dia anterior, Manuela Ferreira Leite aceitou o jogo das entrevistas dos “Gatos Fedorentos” e resistiu à tentação de transformar aquilo em mais um debate ou comício. Enquanto Sócrates jogou sempre à defesa, procurando furtar-se às ironias do entrevistador levando as questões para o discurso redondo que trazia preparado e repetindo a monocórdica cassete, mil vezes ouvida nesta campanha, das razões da governação dos últimos quatro anos, Manuela Ferreira Leite foi espontânea, inteligente e… divertida, conseguindo quase sempre ter mais e mais sibilina graça do que o próprio Ricardo Araújo Pereira. Uma verdadeira revelação para quem esperava encontrar a dama de ferro sisuda e indisposta, até “salazarenta”, que dela fazem os adversários. Para a coisa ter sido perfeita só faltou o sal da auto-ironia. “Le humour est la chose la plus sérieuse du monde” (acho que é Jankélévitch quem o diz), e um político com humor diferente do sarcasmo ou da piada grossa, uma raridade. O problema de Manuela Ferreira Leite, para eleitores cépticos (e com memória), é quando decide falar a sério.
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