Intenções
por Pedro Marques Lopes
Corria uma piada que dizia que o PSD iria fazer um programa tão, digamos assim, económico em palavras que bastaria um sms para o divulgar. Pelo que nos foi dado a ver a graçola tinha um fundo de verdade. Bastava, afinal, uma palavra para resumir essa possível mensagem: intenção.
O PSD propõe-se fazer melhor na economia, na solidariedade, na justiça, na educação, na segurança, na saúde, na administração pública, no ambiente, na cultura, na ciência, no ordenamento do território e em tudo o mais.
Em praticamente todos os aspectos relevantes não existe uma proposta concreta ou uma linha bem definida de rumo.
Para quem passou um ano e meio a apregoar aos quatro ventos que os socialistas apenas tinham palavras e promessas para oferecer, não deixa de ser confrangedor verificar que os sociais-democratas não têm mais para oferecer que não sejam lugares-comuns, suspensões para melhor análise ou vaguíssimas opiniões.
Que pode um cidadão esperar de alguém que diz que quer um Estado menos dirigista e com menos peso na economia e depois nada diz sobre as golden-shares, o que fazer com as empresas públicas e municipalizadas, o excesso de funcionários públicos, as empresas da Caixa Geral de Depósitos (extraordinária e bem reveladora da diminuição de "dirigismo", a promessa de orientações a este banco público) ou como se vai reduzir a despesa?
De que tipo de seriedade estamos a falar quando se diz que se suspende o actual modelo de avaliação de professores sem que se proponha outro? Será que vamos retomar o que (não) existia ao tempo da dra. Ferreira Leite no Ministério da Educação? Que dizer quando se resume uma política educativa aos chavões do "combate ao facilitismo" e à "cultura de exigência e rigor"?
Como é que podemos levar a sério um programa que na Justiça não tem uma linha sobre a urgente reestruturação do Ministério Público e enuncia, sem qualquer detalhe, uma avaliação dos juízes?
A que tipo de comportamento ético-político nos pretendemos referir quando há um ano se apelidava a descida da taxa social única como inconsciência e agora se defende o seu decréscimo em dois pontos percentuais ou se pretende revogar medidas que se decretaram como é o caso do pagamento especial por conta?
Será que um plano - inexistente, claro está - para a recuperação económica e aumento de competitividade e produtividade não mereceria uma pequena nota que fosse sobre legislação laboral, nomeadamente no que às pequenas e médias empresas diz respeito?
Ficamos a saber que o TCV vai ser suspenso. Porém, não é certo: vão-se fazer novos estudos. Claro como água.
O programa do PSD não é, a bem da verdade, um calhamaço de propostas. São apenas quarenta páginas de intenções vazias de conteúdo.
Para quem tinha prometido um programa diferente, com soluções concretas para os problemas do País - definidos agora como verdades - soa a pouco, muitíssimo pouco.
Onde estarão os estudos do Instituto Sá Carneiro, as conclusões dos fora da verdade, os contributos das pessoas que telefonaram para a linha de atendimento do PSD? Das duas, uma: ou foram desperdiçados ou não mereceram consideração.
Portugal precisava, como provavelmente nunca desde que vivemos em democracia, do PSD. Do PSD reformista, corajoso, liberal, sem receio de propor medidas que invertessem este ciclo depressivo que promete levar o nosso país para um beco sem saída. Pedem-nos, apenas, que confiemos numa pessoa. A sua verdade vai-nos redimir. A sua verdade tudo vai resolver. A sua verdade vai tirar-nos da cauda da Europa e tornar-nos mais ricos e mais felizes.
De facto, não era preciso programa e, em bom rigor, ninguém vai lê-lo. Não vale a pena.
Agora, sim, temos escolha: o PS tudo irá resolver através da intervenção do Estado; o PSD tudo solucionará com boas intenções.
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