O QUE O PS NÃO PRECISA
AS CERTEZAS DOS QUE MUDAM MUITO
Humilhado por uma derrota eleitoral sem precedentes, pior que a de Almeida Santos em 1985, e ressabiado pela inequívoca rejeição à esquerda e à direita dos seus pontos de vista, Vital Moreira é hoje uma personalidade politicamente inconveniente para o Partido Socialista. E o mais grave é que ele ainda não compreendeu. Como também não se tinha dado conta, antes e durante a campanha das europeias, que caminhava sem retorno para o abismo.
A tentativa arcaica, quase a roçar a argumentação do tempo da ditadura, a que empenhadamente se tem devotado nestes últimos anos da sua agitada e sinuosa vida política, de apresentar o PS como vítima de terríveis maquinações dos partidos à sua esquerda e, simultaneamente, único depositário dos grandes valores da esquerda, constitui hoje uma menos valia política e eleitoral para o Partido Socialista.
A fé ilimitada no mercado e nos seus “valores”, a confusão entre o Estado social e democrático e o Estado assistencialista e caritativo, a incapacidade de aceitação de um juízo plural na construção das modernas sociedades, o fanatismo demonstrado na defesa da auto-regulação capitalista, é tudo o que o PS não precisa, pelo menos, nesta fase pré-eleitoral. E é o que Vital Moreira tem para lhe oferecer!
Depois, a estafada argumentação tendente a fazer crer que o capitalismo moderno teve um devaneio neo-liberal do qual já está, felizmente, recuperado, a insistência na falsa ideia de que existe um modelo social europeu e de que a desregulamentação económica e financeira não faz parte da matriz comunitária, bem como a miopia política que não permite encarar a possibilidade de construção de outra Europa que não a saída do Tratado de Lisboa e seus antecedentes, retira qualquer viabilidade ao diálogo e acantona o PS, cada vez mais, nas práticas e concepções que verdadeiramente subjazem ao seu fracasso e acabarão por ditar a sua derrota.
De facto, o PS não perderá as eleições por o eleitorado escolher o BE e o PCP. O PS perderá as eleições por ter seguido uma política que constituiu uma verdadeira frustração para o eleitorado que nele acreditou e lhe deu o seu voto. O eleitorado de esquerda não muda de voto para entregar o poder à direita, mas para buscar novos actores que possam pôr em prática as política por que aspira!
Correia Pinto no POLITEIA
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